No dia 28 de junho de 2009, um fatídico domingo que marcou o início de um golpe de Estado nas Honduras, escrevi aqui no blog o post “Militares tomaram o poder nas Honduras“. Desde então me debrucei sobre o assunto, e depois disso escrevi pelo menos uma dúzia de posts aqui no blog (colocarei a relação deles ao final deste post). As postagens desembocaram, enfim, num texto sobre o título de Deputado vitalício ganho por Roberto Micheletti, o deputado que assumiu o cargo de presidente (golpista) após a derrubada do presidente democraticamente eleito, Manuel Zelaya.
Ontem, o site Wikileaks revelou um documento confidencial (entre vários que tem trazido à luz nos últimos meses) no qual o embaixador norte-americano no país, Hugo Llorens, diz que “os militares, a Corte suprema e o Congresso Nacional [das Honduras] conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra” [o ex-presidente Manuel Zelaya]. Desde o primeiro texto, o blog lidou com o golpe como ele foi: uma manobra institucional ilegal executada pela elite hondurenha que manda na Suprema Corte, nas Forças Armadas e no Parlamento.
Entretanto, houve quem falasse que se tratou de uma deposição “legal”, constitucional, e acusaram Zelaya de pretender a perpetuação no poder, supostamente dando um golpe para alterar e rasgar a Constituição hondurenha; disse-se outras bulhufas mais – dessas publicadas pela sempre “altruísta” grande mídia brasileira (que se referia,”desinteressadamente” ao presidente golpista, Roberto Goriletti, como “presidente interino”).
Mas e quem lembra de quando o “presidente interino” Goriletti manobrou, em 1985, para alterar ilegalmente a Constituição de Honduras? E quem lembra que o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas golpistas de Honduras, Romeo Vásquez, foi chefe de uma quadrilha especializada em roubar carrões para seus clientes de hábitos caríssimos…?
Muito provavelmente pouco ou nada será veiculado sobre esse documento do WikiLeaks, menos ainda sobre a ilegalidade da deposição de Zelaya, nem sobre a nobreza que comandou o golpe. Mas não precisamos nos preocupar com isso tudo. Falarão menos ainda sobre as Honduras e sua trajetória histórica, e a grande fatia do mundo continuará na mesma ignorância de sempre quando o assunto for aquele pequeno país da América Central- a vidinha por aqui segue seu rumo sem percalços, até porque, no Brasil, agora temos uma “guerra” pra acompanhar na tevê.
Como publicamos várias postagens sobre o assunto aqui no blog (o editor Pierre Lucena chegou até a participar de um debate sobre isso numa faculdade aqui do Recife), creio que seja válido trazer a leitura do texto abaixo, publicado no Opera Mundi (agradeço ao leitor Martins, pela dica), e uma releitura daquilo que se publicou aqui no Acerto de Contas.
“Em documento do Wikileaks, embaixador dos EUA diz que golpe em Honduras ‘foi ilegal’”
Em meio à série de documentos confidenciais de embaixadas norte-americanas ao redor do mundo, revelada pelo site WikiLeaks neste domingo (28/11), um diz respeito diretamente a Honduras. O embaixador no país em 2008, Hugo Llorens, comenta em um dos arquivos um mês após o início da crise institucional no país centro-americano que, sem dúvidas, “os militares, a Corte suprema e o Congresso Nacional conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra”, o ex-presidente Manuel Zelaya. Washington não admitiu imediatamente que houve um golpe em Honduras, ao contrário da maioria dos países da região.
Llorens acrescenta no documento que “não importando as acusações que pesavam sobre Zelaya, sua saída forçada de Honduras foi claramente ilegal e a entrada de [Roberto] Micheletti como ‘presidente interino’, foi totalmente ilegítima”. A embaixada afirma nas mensagens que os argumentos dos “defensores do golpe do dia 28 de junho” são “muitas vezes ambíguos”, e Llorens diz ter consultado “especialistas em legislação em Honduras”, mas afirma entre parênteses que “(não pode encontrar uma visão profissional não tendenciosa em uma Honduras com um clima politicamente pesado)”.
No texto revelado pelo WikiLeaks, a embaixada em Honduras reconhece que nunca foi demonstrado que o presidente Zelaya havia burlado a lei e afirma que o argumento de que tentava se prolongar no poder era uma suposição. O documento, revelado pelo jornal The New York Times, mostra que os argumentos apresentados por Micheletti e pelos militares e políticos golpistas “não tinham qualquer validade substancial” e que “alguns são abertamente falsas”.
Entre os destinatários estão o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, e o assistente especial de Barack Obama e diretor para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional, Dan Restrepo.
Poucos meses após o golpe, a secretária de Estado, Hillary Clinton, restabeleceu as relações com Tegucigalpa e reativou novamente a ajuda financeira para o presidente Porfírio Lobo.
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Para acompanhar outras informações recomendo o blog HondurasEnLucha e o Twitter @hondurasenlucha.
Alguns posts sobre o assunto postados aqui no blog Acerto de Contas:
1 – Militares tomaram o poder nas Honduras
2 – Honduras corta luz, água e telefone da embaixada brasileira
3 – Zelaya foi deposto porque desagradou a elite hondurenha
http://acertodecontas.blog.br/internacional/zelaya-foi-deposto-porque-desagradou-a-elite-hondurenha/
4 – Golpistas fecham a rádio Globo e tv ’36′, e pressionam o Brasil
5 – CIDH condena estado de sítio imposto pelos golpistas. Blogueiros relatam caso de tortura
6 – Para os juristas de botequim
7 – Micheletti diz que segue à risca os Direitos Humanos, mas jornalista denuncia tortura
8 – O menino revolucionário de Honduras (post de Marco Bahé)
9 – À homogênea mídia
10 – Romeu Velásquez: de integrante da “Quadrilha dos 13″ à Chefe das Forças Armadas de Honduras
11 – Sobre Honduras e os comentários
12- Anistia Internacional denuncia execuções, torturas e estupros durante governo golpista de Micheletti
Anistia Internacional denuncia execuções, torturas e estupros durante governo golpista de Micheletti
13 -Micheletti, “deputado vitalício”… Palmas para o legislativo hondurenho!
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